Moramos na beira do canal, da vala de ninguém, no fim da vila, o mundo é de vocês.
Pisamos no mesmo chão, o nosso de lama e o de vocês de asfalto, que cobrem com o nosso dinheiro.
Comemos os mesmos transgênicos, os nossos tomates são só dois, com furos cavernosos.
O de vocês é tomate verde em caixas, da melhor qualidade, que nós nunca provamos.
Perfumes que exalam as salas refrigeradas, e morreremos sem nunca ter sentido a essência.
Calos que nunca tiveram, nos acompanham desde que nascemos.
O rebento se foi rebentar antes da hora, o nome foi João, sem pensar muito.
A casa é digna, digna de uma construção, porque as lonas o vento já levou.
Continuar rebentando rebentos enquanto as camisinhas nunca serão reconhecidas.
O INMETRO nunca nos viu o que tem em casa, pois o trabalho seria grande.
Mamãe mandou uma carta, mas não responderam, ele parece que não volta esse ano.
Vamos tentar falar com o pessoal, estamos esperando, já matamos vários porcos.
Nunca chegaram pra comer conosco. Comemos todos, o que deu, o resto estragou.
Ou então jogamos os restos dos porcos para os outros porcos comerem.
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