Enquanto sangro por volta
Não olho pros lados
Vejo em cima uma trilha
Que me mostraram
Com estrela no fundo
Suspenso pelo vento
Vivo pelo ar
Morto pelo sopro
Sendo servo do senhor
Mãos atadas e cabeça baixa
Permaneço obediente
Omisso, leviano e mortal
Cactos nas mãos
Deixo que façam
Todos fazem
Menos eu
Cactos nos olhos
Eles veem melhor
Todos veem
Menos eu
Cactos nos ouvidos
Permito que ouçam
Todos ouvem
Menos eu
Sangro no meio do deserto, todos se foram sabendo de tudo.
Qual o sentido de estar cheio de cactos, sangrando sem ninguém?
Sangrar por alguém de bem seria um bom motivo, mas se sou só eu, sangrando por mim.
Qual o motivo?
Nenhum.
O Homem-Cacto morreu. Não quis água, nunca tomou, nunca provou, tampouco umedeceu-se com sua temperatura, nunca sentiu sua presença.
Viveu pra nada.
Morreu por nada.
Nunca valeu, nunca prestou.
Viveu pra nada.
Morreu por nada.
Nunca valeu, nunca prestou.
Se foi sem saudades.
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