terça-feira, novembro 05, 2013

vendo corpo, nunca mente.

Cansei do tremor e do calor daquelas paredes, o mormaço estava me enlouquecendo, tudo me levou pra fora daquele quarto, então me dirigi a qualquer lugar onde o clima fosse mais agradável. Estavam sentados na mesa da cozinha, nos sofás e no chão da sala, minha tia enrolada com uma toalha no corpo e outra na cabeça ria até espremer o rosto de um talk show de domingo, eu não via graça alguma naquilo, modelos no fim da carreira cantando músicas chulas, sentei na mesa e continuei vendo todos dando atenção máxima para aquele programa, comi o resto do meu almoço por alguns minutos, mastiga sem ânimo, mesmo que tivesse fome, o refluxo que aquele ambiente causava era necessário para me fazer vomitar toda a comida. Observei por algum tempo, minha vó então teve a decência de criticar aquele programa, então acompanhei o ritmo daquele comentário e soltei sem arrependimentos: Mas que bela porcaria um programa desses! E em seguida minha tia revoltada com a minha insatisfação, retrucou imbecilmente ao meu comentário: É melhor ficar rindo do que ficar assistindo desgraças. Percebi que não era um problema da minha família, que não era meu. Era o que entrávamos todos os dias com milhares de idiotas que acompanhamos em nossos dias. São todos alienadamente felizes, achando-se imperecíveis a realidade. Percebi que meu quarto não era somente o lugar menos valorizado por sua solidão, mas que o mundo era pouco povoado por esse tipo de ambiente, ele era hostil demais. É tão prático manter nosso corpo de molho e deixá-lo flutuar até quando quiser. O trabalho árduo é levantar e caminhar, e ver, e sentir o preço do calor, e mover as pedras mais pesadas sem a ajuda de ninguém. O difícil é ser bom, é reconhecer o que é bom. Entrei no meu quarto e eles voltaram ao mundo de encantos. Amparados por suas contas bancárias, etiquetas e roupas de marca.

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Belém, Pará, Brazil
Fui aparelhado para gostar de pássaros.