segunda-feira, março 24, 2014

fundo do esgoto

eles não me querem mais por ser incompleto, por ser incapaz e infeliz. isso não é depressivo, entendo. só não tentem diagnosticar, sou isso mesmo, impermeável, insaciável, cruel e infeliz em plena forma. carente, crente que a coisa mais feliz que acontecerá na minha vida será encontrar um amor que me permita vagar pelo mundo com suavidade, caminhar pelos bosques com gosto de café no pensamento e aquela vontade imensa de voltar pra casa, tirar a roupa suja, tomar um banho e arrumar a cama pra te esperar, até que baguncemos tudo novamente, pra que eu reclame e fiquemos rindo, um sob o peito do outro, desses amores que temo em viver e sobreviver, sendo eles incapazes ou não de me satisfazerem; quem será eu sem minhas cuecas ridículas e minha vida que não cabe em mim? sem escrever permaneço na eminência de me afogar e me perder no desespero da minha vida, sem contrações musculares, sem esforço mental, sem estímulo. penso em filhos, no futuro, no próximo celular, minha mente nunca para, porque ainda não morri, e a progressão de pensamentos me faz perceber que estou vivo, e como meu corpo sedentário insiste em pulsar, se movimentar, silencioso pelo espaço, ignorando a passagem do tempo. enquanto na minha lógica ocidental surge as respostas pra minha vida falsa, minhas palavras sem sentido que só querem me confortar, uma motivação interna de externalizar algo que esse interior pode ser criar, algo que não seja frustração ou ínfimo. se penso em mim assim, penso só em mim, e se penso em ti - seja quem for -, penso primeiro em mim. e se por acaso a vontade for de ter uma boa refeição com belas conversas intelectuais que ressaltem a perspicácia, a sagacidade das tuas palavras, que me valorizem, sua presença complementará minha felicidade, mas farei isso por mim, só por mim.

mas quando todo o egoísmo derrete, leva larva quente pela vala e encharca tudo de água, de claridade e inunda os olhos em uma bola redonda e colorida, quando a íris dos olhos vê com mais intensidade o arco-íris; pra onde foram as frustrações? quando será que elas desapareceram? só deixaram as cicatrizes, que bom. agora sobram essas coisas sonoras e verdes, sonatas de amor, sim, ai surge essa palavrinha pertinente que toma conta dos cantos da boca, toma conta dos pensamentos, quando ela resolve solucionar as crises e fazer da simpatia uma tolice de todos os dias, carregando o tão esperado estímulo, sim, ela tem poder, por um bom tempo de conservação, até que se vá e o ciclo recomece, como no silêncio inaudível do intervalo de uma música pra outra.

o mercado da felicidade está em alta, e eu não estou aqui para compactuar com essa universalidade da felicidade. que ela se foda, devemos ser tristes também.

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Belém, Pará, Brazil
Fui aparelhado para gostar de pássaros.